De pesquisas espaciais a vida em Vênus: Como a ciência e o conhecimento influenciam a sua vida.

Nos últimos meses houve um furor pela internet por causa de uma recente descoberta no planeta Vênus. Pesquisadores da Sociedade Astronômica Real do Reino Unido detectaram moléculas de fosfina na atmosfera do planeta Vênus. Daí que a tal fosfina não é lá uma substância muito comum. Na Terra ela só é encontrada quando produzida em laboratório, ou como resultado de reações químicas que acontecem no corpo de alguns seres vivos (ela aparece em cocô de pinguim). O que rapidamente levantou o debate da possibilidade de vida em Vênus. Tão rápida quanto essa discussão, surge uma outra, ainda mais velha, e que sempre aparece quando algo assim é divulgado: Pessoas que questionam a utilidade de ciência e conhecimento.

Conhecimento — sempre foi — poder

Você pode acreditar que ao pular de um prédio de três andares segurando um pedaço de gengibre, a mãe natureza te dará poderes para voar. De fato, seu direito de crença é livre, embora muitas pessoas irão tentar te dissuadir da proeza. Uma segunda pessoa mais sensata, no entanto, observaria que ao longo da história, milhões de pessoas já pularam das mais diversas alturas, e, sem um equipamento para amortecer a queda, o resultado geralmente não é muito positivo.

Mais do que isso, essa segunda pessoa pode também decidir fazer alguns testes. Ela joga algumas coisas da mesma altura, testa os diferentes resultados, compara a estrutura e o peso dos infelizes objetos arremessados. Depois ela compara a anatomia humana, o funcionamento dos órgãos e prevê tudo que pode possivelmente dar errado durante o voo. Enfim, ela chega à conclusão de que não é uma boa ideia pular de prédios de três andares com a intenção de voar.

Essa segunda pessoa não simplesmente "acredita" que seja uma má ideia. Ela SABE que é. Ela leva em conta que várias possibilidades podem acontecer. Pode até mesmo ocorrer do saltador sair da empreitada sem nenhum arranhão (embora a possibilidade de que ele voe seja muito menor). Mas o (muito) mais provável é que a experiência termine com alguém se esborrachando no chão. Essa segunda pessoa usou CIÊNCIA.

Ao contrário do que muitos pensam, ciência não é uma profissão obscura realizada por gênios anormais dentro de um laboratório ultra secreto. Ciência é o simples fato de obter conhecimento. SABER como as coisas funcionam, e os possíveis resultados de acordo com o modo como são manipuladas. Essa é uma vantagem indefinível na vida, quando não uma questão de conhecimento. 

Ao longo das eras, o conhecimento se tornou uma questão chave em diversas situações. Reis e generais de guerra gastavam tempo e recursos consideráveis enviando espiões para países inimigos, com a inteção de obter informações. Historiadores apontam que um dos principais motivos do velho Hitler perder a segunda guerra mundial, foi exilar da Alemanha cientistas judeus, um dos quais foi essencial para a criação da primeira bomba atômica: o velho Albert Einstein.

Sem o descobrimento das bactérias e formas de vida microscópicas, a humanidade não conseguiria criar vacinas, remédios, e estariam todos à mercê do obscurantismo, acreditando que aqueles que adoecem estão na verdade sendo castigados pelos deuses. O conhecimento sempre teve o poder de dar liberdade à humanidade. Liberdade para agir e entender o mundo ao seu redor. Mas então, porque as pessoas rejeitam a ciência?

Enfim, o luxo.

Certa vez, este autor que vos fala navegava pela internet quando encontrou um texto sobre descobertas espaciais e aprimoramento da tecnologia de satélites. Nos comentários do texto, um certo senhor discursava rancorosamente sobre a inutilidade das pesquisas espaciais, e o quanto isso pouco significava para a vida das pessoas.

Que se analise a situação: Um indivíduo está no conforto da sua casa, sentado em um local protegido e com luz elétrica, provavelmente usando um celular ou notebook em uma rede sem fio, usando internet via satélite para dar opinião sobre um assunto (do qual certamente não entende), discutindo com indivíduos de várias partes do mundo em frações de mili segundos, justamente para  provar a "inutilidade" do tipo de pesquisa que gerou o serviço que ele mesmo está utilizando!!

O fato é que as pessoas estão tão acostumadas com as facilidades da vida moderna, que se esquecem (ou se esforçam para esquecer) das enormes vantagens que aproveitam diariamente. Em qualquer outra era, os humanos passados diriam que o que fazermos hoje só pode ser feitiçaria. 

Um interessante estudo sobre o gráfico de vacinação aponta que quando está perto de ser extinta, uma doença vacinável tem na verdade um aumento do número de casos (seguida de uma redução no número de vacinados). Só depois de um período é que o gráfico volta a se acertar e a curva de doentes cai (e a de vacinados aumenta). Isso porque em períodos de segurança, as pessoas simplesmente começam a questionar a utilidade das vacinas. E só voltam a se precaver quando o número de contaminados aumenta.

As vária faces de uma descoberta

Lançada em 2019, a animação japonesa Dr. Stone tem uma história inusitada: do nada, sem explicar os motivos, toda a humanidade vira pedra. Milhares de anos se passam, e ao se desempedrar por acidente, Senku, o personagem principal, inicia uma jornada para "ressuscitar" a humanidade. Ávido por ciência e conhecimento, ele começa por experiências que revertam o processo de petrificação. Depois de ressuscitar com sucesso algumas pessoas, eles finalmente encontram uma pequena vila de descendentes de humanos que não foram petrificados.

O problema agora é trazer a humanidade e volta sem nenhum recurso, tendo como base um pequeno grupo de pessoas despetrificadas, e uma comunidade de humanos que vem vivendo de forma primitiva há milhares de anos. Para tal, Senku usa a única e mais efetiva arma que possui: a ciência. Com conhecimento científico, Eles começam aos poucos a resolver problemas da recém comunidade, além de desenvolver o potencial humano e começar a recuperar civilização.

Uma das primeiras lições ensinadas é a forma como o conhecimento funciona. Uma descoberta em uma determinada área influencia o desenvolvimento em outras, ainda que não haja relação aparente. Dr. Stone consegue transmitir essa ideia de forma fantástica, quando o protagonista ensina aos habitantes com fazer algodão doce. A mesma técnica que produz o doce é usada para preparar fios de ouro, com os quais eles produzem o primeiro protótipo de um telefone primitivo.

A história está cheia de exemplos desse tipo, como quando o simples estudo de um mofo causado por uma comida que apodreceu no forno serviu de base para a produção da penicilina, um poderoso antibiótico, uma das substâncias que mudaram completamente o curso da humanidade. 

Pesquisas científicas, sejam no espaço, no fundo do mar ou onde for, sempre abrem portas para diversos usos em outras áreas. Tentar desmerecer um estudo simplesmente por não conseguir ver uso imediato para os resultados descobertos é um triste sintoma de empobrecimento intelectual (vide senhor ranzinza que critica pesquisa espacial enquanto usa tecnologia via satélite para fazê-lo).

Conhecimento e mercado

A essa altura você já deve saber de cor, mas o conhecimento continua sendo diferencial em qualquer área, inclusive no mercado. Ter conhecimento não apenas te torna diferenciável dos concorrentes, mas também te dá mais liberdade e flexibilidade no mercado. Uma pessoa que age com base no que ela sabe tem mais chances de prever o que irá acontecer e propor soluções inteligentes, ao invés de apostar em decisões importantes se baseando meramente no que ela acredita.

Por isso profissionais de destaque estão sempre aprendendo coisas novas. Nós somos aquilo que sabemos, o que conhecemos. Como o grande Car Sagan: "Nós somos uma maneira que o universo encontrou de aprender sobre si mesmo".

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